🌸 Ordem das Clarissas: Fundação, Vida, Regra e Legado ao Mundo
A Ordem de Santa Clara, também chamada de Ordem das Clarissas, é a segunda ordem franciscana, marcada por profundidade contemplativa, radical pobreza e poderoso protagonismo feminino na Igreja. Fundada em 1212 por Santa Clara de Assis, com apoio de São Francisco, tornou-se referência de espiritualidade e resistência até os dias de hoje. Neste texto, você vai explorar:

- O contexto histórico do surgimento
- A vida comunitária nos primeiros anos
- Evolução do nome e identidade institucional
- Caminho até a Regra própria
- A vida da ordem após a morte de Santa Clara
- Ramificações e sua expansão mundial
- Presença no Brasil
- Impacto contemporâneo
- Síntese final

1. ✨ Contexto histórico e motivação da fundação
No início do século XIII, emergia na Europa uma sede de renovação espiritual. As ordens mendicantes, como os frades menores e dominicanos, reivindicavam pobreza, pregação e contato direto com as pessoas, contrários aos mosteiros ricos e isolados. Foi nesse ambiente que Santa Clara, vislumbrando um chamado maior, renunciou à vida nobre e se uniu a Francisco.

Quando Clara se apresentou a ele no Domingo de Ramos de 1212, o gesto de Francisco de cortar seu cabelo e dar o hábito simbolizou o nascimento de uma nova realidade: uma comunidade feminina que observava dos valores evangélicos — a pobreza, obediência e oração — em guarda constante da penitência e da fraternidade. 🌿💛

2. 👭 Primeiros anos: Vida em São Damião
Após rápida passagem por mosteiros beneditinos, a primeira comunidade feminina encontrou estabilidade em São Damião, antiga igreja rural de Assis. Ali, Clara se tornou abadessa, mesmo relutante, e formou um núcleo exemplar: incluiu familiares como sua irmã Inês e diversas jovens devotas, revelando o poder do testemunho e da liderança.

A rotina diaria era intensa:
- Orações constantes
- Silêncio quase total, quebrado apenas para o trabalho ou serviços comunitários
- Jejuns rigorosos, alimentando uma vida espiritual profunda
- Trabalho manual, entre costura, cultivo e hospitalidade a pobres
São Francisco se manteve próximo, fornecendo apoio e ensinamentos — e foi ele quem começou a redigir a “Fórmula de Vida”, o embrião da Regra clariana.

3. 📛 Evolução do nome: da comunidade feminina à identidade institucional
Ao longo dos primeiros anos, as “Damas Pobres” passaram por várias designações:
- “Pobres Damas de São Damião”
- “Irmãs Menores”
- “Damianitas”
Com a canonização de Santa Clara em 1255, o nome foi consolidado: Ordem de Santa Clara. Em 1263, com a bula de Urbano IV, unificou-se institucionalmente como Ordem das Clarissas, reforçando sua autonomia em relação aos frades menores e firmando sua identidade própria.

4. 📜 A Regra: da tradição oral à norma papal
4.1 Fase 1 – Esboço franciscano (1212–1219)
Francisco estabeleceu oralmente a Regra inicial — uma forma de vida simples na pobreza completa, sem posse de bens, apenas contando com esmolas. Apesar de não formal, guiou a comunidade com profundidade espiritual.
4.2 Fase 2 – Regra de Ugolino (1219)
O cardeal Ugolino (futuro Gregório IX) redigiu um texto que, embora inspiração para romarias, permitia certa posse e renda. Clara recusou, pois via isso como ameaça à radicalidade do carisma franciscano.

4.3 Fase 3 – Regra própria de Clara (16‑9‑1252 aprovada por cardeal Reinaldo; 9‑8‑1253 aprovada por Inocêncio IV)
No leito de morte, Clara redigiu a primeira Regra Religiosa escrita por uma mulher, confirmando a pobreza total no mosteiro de São Damião. O documento garantia viver sem nada de próprio, com distribuição apenas de esmolas e trabalho manual — uma radicalidade espiritual impar na época

4.4 Fase 4 – Divisão após 1253
A partir de 1263, a bula de Urbano IV criou a Regra Urbanista, permitindo posses comuns e renda. Essa mudança levou à divisão entre:
- Clarissas da 1ª Regra: rigorosa, pobreza total
- Clarissas Urbanistas: adaptação a contextos econômicos
Além disso, surgiram outras ramificações:
- Coletinas (século XV): reforma da pobreza por santa Coleta
- Clarissas Capuchinhas (1538): austeridade inspirada nos capuchinhos e em Maria Lourença Longo

5. ⚰️ Vida após a morte de Clara
Santa Clara morreu em 11 de agosto de 1253, pouco depois da aprovação da Regra. Sua canonização, em 1255, acelerou a expansão da ordem. Em 1260, seus restos foram transferidos para a Basílica de Santa Clara em Assis, local de peregrinação e reverência (foto abaixo)
Sob sua liderança espiritual a Ordem das Clarissas, mesmo fragilizada, delimitou-se um legado que se desdobrou em fé, letra e identidade feminina e religiosa na história cristã.

6. 🕊️ Ramificações e expansão global
A base estabelecida por Clara e Francisco resultou em ramificações profundas:
- Clarissas Primitivas: rígidas, abstinentes, liberdade mínima de bens
- Urbanistas: adaptação econômica
- Capuchinhas: terceira ordem rigorosa desde 1538
- Coletinas: reforma espiritual e estrita pobreza a partir de 1410
- Sacramentinas e Adoração Perpétua: voltadas à contemplação sacramental

Até o século 13, a expansão foi vertiginosa: mosteiros em Perugia, Florença, Barcelona, Reims, Paris e, até 1300, mais de 47 mosteiros na Europa.
Hoje, existem mais de 20 000 religiosas, em cerca de 900 mosteiros, vivendo em mais de 75 países, atendendo às realidades locais ainda dentro da espiritualidade clariana.

7. 🇧🇷 A presença clariana no Brasil
A presença das Clarissas no Brasil teve início em:
- 1677: chegada das primeiras Clarissas Urbanistas ao Convento do Desterro (Salvador–BA), fundado por Madre Vitória da Encarnação, fortalecendo a vida contemplativa feminina (foto acima).
- 1979: chegada das Clarissas Capuchinhas ao Rio Grande do Sul, com mosteiros em Flores da Cunha e Porto Alegre (Abaixo foto do Mosteiro de São Damião, em Porto Alegre).

Atualmente, há mosteiros das quatro observâncias espalhados pelo país, em capitais e pequenas cidades, mantendo:
- Adoração e intercessão pela Igreja e sociedade
- Vida contemplativa integrada ao cotidiano contemporâneo
- Retiros, vocacionalidade e apoio espiritual à comunidade

8. 🌿 Legado contemporâneo
Hoje, as Ordem das Clarissas oferecem:
- Testemunho feminino histórico de estreita relação com estruturas eclesiais
- Contracultura evangélica com pobreza radical e entrega sem recursos materiais
- Presença contemplativa como raiz da oração da Igreja global
- Diversidade espiritual, desde os primitivos até os colettinos e capuchinhas
- Relevância vocacional num mundo que busca sentido, silêncio e escuta interior

9. Conclusão
A Ordem das Clarissas nasceu de um chamado interior, expressado com ousadia por Clara e fortalecido espiritualmente por Francisco. A formação de sua Regra e os desafios enfrentados demonstram:
- Coragem para escrever uma Regra radicalmente independente
- Capacidade de inspirar mulheres na Igreja medieval a assumir liderança institucional
- Visão estratégica para equilibrar ideal espiritual e sobrevivência econômica
- Toque de renovação permanente, visto em suas ramificações, mantendo sempre a essência clariana

Mais que uma ordem religiosa, a Ordem das Clarissas mantem viva uma herança espiritual que ultrapassa a clausura: feminilidade, pobreza, oração e coragem continuam a ecoar através dos séculos, iluminando o caminho dos que buscam o verdadeiro sentido da vocação.
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